Gota é o nome dado a inflamação das juntas provocada pela cristalização de uma substância chamada ácido úrico. Portanto, a elevação do ácido úrico é uma condição essencial para o desenvolvimento desta doença. Algumas pessoas possuem níveis altos de ácido úrico no sangue, sem nunca ter apresentando inflamação nas juntas, sendo assim ainda não pode ser chamado de gota.
Quem é o médico que trata Gota?
A gota é uma doença articular que pode ser confundida com outras formas de artrite, podendo ter seu diagnóstico atrasado e assim retardando o início do tratamento.
Além disso, percebo na prática que muitos pacientes chegam ao consultório com dúvidas sobre o tratamento com medicamentos, confundindo o tratamento das crises com as terapias para reduzir o ácido úrico.
Assim, a gota é tratada pelo médico reumatologista, que é o especialista com a melhor formação médica para dar o diagnóstico e escolher a melhor opção de tratamento para o seu caso.
Dr. Maxwell Pessoa é médico reumatologista e realiza atendimentos na cidade de Curitiba/PR. É também médico reumatologista no Hospital de Clínicas da UFPR, onde também atua como preceptor do programa de residência em Reumatologia. Possui experiência de mais de 14 anos como médico.
O que é o ácido úrico?
O ácido úrico nada mais é do que uma substância produzida pela degradação metabolismo do DNA e do RNA, que são os constituintes do nosso código genético.
Nossas células estão o tempo inteiro se renovando, de modo que o processo de produção e degradação do DNA e RNA é constante. No processo de degradação, diversas etapas são seguidas até que um dos produtos desse processo é o ácido úrico.
O ácido úrico produzido circula no sangue e é eliminado pelos rins. Entre a quantidade que é produzida pelo organismo e a quantidade que é eliminada, sobra uma pequena parte que circula no sangue.
Assim, quanto maior a produção do ácido úrico ou quanto menor a eliminação dele pelos rins, maior a quantidade de ácido úrico que fica no sangue, aumentando assim o risco de gota.
Quem é mais afetado pela gota?
A proporção de pessoas afetadas pela gota no mundo gira em torno de 0,6%, porém é muito variável dependendo da etnia (raça) da pessoa em questão, por exemplo em alguns lugares essa proporção pode chegar a 10% como em alguns povos da Oceania.
Além disso, há um crescente aumento da proporção de pessoas afetadas devido ao processo de mudança do estilo de vida das pessoas no mundo.
A chance de ter gota aumenta com a idade e o risco é maior nos homens, sendo até seis vezes mais comum nos homens que nas mulheres.
Quais os fatores de risco para a gota?
São conhecidos alguns fatores de risco implicados no desenvolvimento da gota. O principal deles é o aumento do nível de ácido úrico no sangue. Mas além disso, há alguns outros também:
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- Aumento do nível de ácido úrico no sangue
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- Sexo masculino
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- Idade elevada
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- Genética
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- Consumo de bebidas alcoólicas
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- Ingestão de alguns alimentos (carnes vermelhas, frutos do mar, bebidas com frutose)
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- Medicamentos
Aumento do nível de ácido úrico no sangue
O grande fator de risco de gota é o aumento dos níveis de ácido úrico no sangue. Sabemos que o ácido úrico elevado é uma condição essencial, mas sozinha não é suficiente para o aparecimento da gota, sendo necessário outros fatores.
O aumento isolado de níveis de ácido úrico sem nenhum sintoma de gota, por exemplo, na maioria das vezes nem precisa ser tratado com medicamentos.
Ao se depositar nesses locais, o sistema imunológico do paciente tenta removê-lo e nessa tentativa gera um processo inflamatório muito forte, que é o responsável pela crise de gota, com quadro de dor forte, inchaço na junta, aumento do calor no local e vermelhidão.
Sexo masculino
Em situações normais, os homens possuem níveis maiores de ácido úrico no sangue. Isso ocorre porque o hormônio da mulher, o estrogênio possui a capacidade de aumentar a eliminação do ácido úrico pelos rins.
Idade
O processo de envelhecimento pode trazer junto o surgimento de outras doenças, como a artrose ou desgaste das juntas, diabetes, disfunção dos rins, pressão alta e uso de alguns remédios, como os diuréticos. Esses fatores são os causadores do maior risco de gota que surge com o processo de envelhecimento.
Genética
Do ponto de vista genético, alguns tipos de gota são decorrentes de alterações em genes que produzem algumas enzimas que fazem parte do processo de degradação do DNA, fazendo com que o resultado final seja o aumento do ácido úrico no sangue e assim maior o risco de gota.
Consumo de bebidas alcoólicas
Consumo em excesso de todos os tipos de bebidas alcoólicas, especialmente da cerveja aumentam o ácido úrico no sangue. Isso decorre do processo de metabolização do álcool presente nas bebidas. Esse processo, que é a forma como o fígado degrada o álcool para eliminar do organismo, gera como consequência mais ácido úrico.
Ingestão de alguns alimentos
Do mesmo modo, a ingestão de determinados alimentos ricos em purinas (constituintes do DNA e RNA) aumentam a produção do ácido úrico. Esses alimentos são especialmente as carnes vermelhas, os frutos do mar, os alimentados ultra processados (embutidos) e sucos com altos níveis de frutose (como esses sucos industrializados encontrados em caixas nos supermercados).
Medicamentos
Alguns remédios usados para tratamento de outras doenças aumentam o risco de gota. São exemplos os medicamentos diuréticos (usados para tratar pressão alta).
Quais são os sintomas da gota?
Durante décadas da vida dos pacientes com gota, houve um aumento de ácido úrico de forma que não produzisse sintomas. Ao ultrapassar o ponto de dissolução dele, ocorre o processo de cristalização e deposição destes cristais de ácido úrico em várias partes do corpo, principalmente as articulações.
O sistema imunológico do indivíduo, ao tentar remover esses cristais, gera um processo inflamatório intenso, que clinicamente é traduzido pela famosa crise de gota.
A crise de gota é um tipo de artrite (inflamação na junta), geralmente afetando uma única articulação de cada vez, principalmente no começo da doença. A crise de gota portanto leva a dor muito forte, calor local, inchaço e vermelhidão da junta afetada.
A dor é tão intensa que até o toque do lençol na articulação produz muita dor. As crises ocorrem mais comumente no período da noite, pois a temperatura do nosso corpo esfria quando estamos dormindo. O frio é um dos fatores que torna o ácido úrico mais cristalizado e com maior chance de gerar inflamação.
Ainda falando sobre o frio, a articulação que mais sofre com as crises de gota por ser a junta mais fria do corpo é a articulação do dedão do pé. Essa artrite é conhecida na medicina como podagra.
A crise de dor, embora muito intensa, pode resolver sozinha depois de 3 semanas (não precisamos esperar que isso ocorra, pois há tratamento para isso). Após uma crise, segue um período de tempo sem sintomas até que uma nova crise surja, na mesma ou em outra junta.
Com o passar dos anos, especialmente sem pessoas sem tratamento, as crises se tornam tão frequentes que o paciente não tem mais os períodos sem sintomas. Nessa fase a gota é chamada de crônica e várias juntas podem ser afetadas ao mesmo tempo.
Além das juntas, o ácido úrico pode se depositar em várias partes do corpo, incluindo região debaixo da pele, que são chamados de tofos. Esses nada mais são do que aglomerados de ácido úrico fora da articulação.
Outros locais que o ácido úrico se deposita são os rins, coração etc., causando danos e aumentando a chance de doenças do coração e dos rins.
A gota se associa a outras doenças?
A resposta é sim! A gota é uma doença metabólica, associada com outras doenças deste mesmo perfil, como diabetes, obesidade, pressão alta e alteração do colesterol e triglicerídeo.
Se o paciente possui alguma(s) dessas doenças ele está sob o risco de ter gota. Se o paciente já tem gota diagnosticada deve ser investigado para a presença de alguma dessas doenças, para tratá-las de modo adequado.
Como é feito o diagnóstico de gota?
Para o diagnóstico de gota, o médico reumatologista necessita coletar detalhadamente a história dos sintomas do paciente. Para isso precisa encontrar detalhes como os sintomas das dores nas juntas, quais juntas foram afetadas, desde quando o quadro começou.
Como essas informações são importantes, é necessária muita atenção para que a gota não seja confundida com outros tipos de artrite.
Durante essa conversa com o paciente, o médico reumatologista questionará sobre os hábitos e estilo de vida do paciente. Como alimentação, uso de bebidas alcoólicas (quantidade e frequência), histórico de gota na família e se há outras doenças associadas, como pressão alta, diabetes, colesterol alterado ou obesidade.
Se durante a conversa houver suspeita de gota, o médico reumatologista recorrerá a solicitação de alguns exames de imagem, como radiografias, tomografia ou ultrassonografia e exames de sangue, que incluem a dosagem do ácido úrico.
Atenção especial deve ser dada quanto aos níveis de ácido úrico. Por vezes o quadro sugere muito ser de gota e a dosagem de ácido úrico vem normal. Isso ocorre especialmente quando a dosagem de ácido úrico é feita muito próxima ou dentro de uma crise (resultado normal, mas falso)
Sendo assim, se a suspeita é forte, a dosagem deve ser repetida e muitas vezes essa segunda dosagem mostra a alteração (resultado alterado e verdadeiro).
Um exame que pode ser necessário é a pesquisa dos cristais de ácido úrico no líquido da junta inflamada. Nesse caso, o médico reumatologista irá realizar a retirada do líquido e a amostra será analisada num laboratório, na microscopia de luz polarizada.
Nem sempre esse exame é necessário, dependendo muito do quadro clínico do paciente. O médico reumatologista é o especialista para indicar a necessidade da punção da junta ou não.
Como é a evolução da gota?
A gota é uma doença crônica e tem origem em alterações metabólicas. A gota deve ser tratada corretamente, tanto suas crises, quanto com medicamentos que reduzem os níveis de ácido úrico.
Pacientes que possuem gota bem tratada, com níveis adequados de ácido úrico, não possuem risco de novas crises e especialmente não desenvolvem deformidades articulares, que geram limitações e até incapacidade.
A falta de tratamento adequado, além de produzir as crises de gota e ter potencial de gerar deformidades nas juntas, também pode trazer danos para outros órgãos como os rins, que além de ter risco de desenvolver pedras, podem perder sua função.
Como é o tratamento da gota?
Os pacientes com gota devem ser orientados pelo médico reumatologista sobre as medidas comportamentais necessárias para evitar crises. Essas medidas são muito relacionadas com o estilo de vida do paciente.
É muito importante ter um estilo de vida saudável, com prática regular de exercícios físicos, que além de controlar o peso do paciente, também reduz níveis de colesterol LDL (o famoso colesterol ruim) e triglicerídeos, reduz a chance de ter diabetes e pressão alta.
Associado aos exercícios, a alimentação deve ser bem balanceada, como todos devemos tentar manter. Evitar alimentos gordurosos, ricos em sal e ter um bom consumo de vegetais e uma ingesta adequada de água durante o dia, calculada de acordo com o peso do paciente.
Especificamente para a gota, alguns alimentos devem ser evitados ou consumidos em quantidades pequenas para não precipitar o aumento do ácido úrico, como carne vermelha, frutos do mar, alimentandos industrializados ultra processados, bebidas contendo alta quantidade de frutose (sucos industrializados).
Quanto às bebidas alcoólicas, o paciente deve ser orientado sobre a redução do consumo.
Em relação ao tratamento medicamentoso, o médico reumatologista irá prescrever medicamentos para três etapas:
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- Tratamento da crise de gota
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- Prevenção de novas crises
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- Tratamento para reduzir os níveis de ácido úrico.
Os remédios, doses, intervalos de tomadas e tempo de uso são orientações muito importantes para o tratamento bem-sucedido e devem ser feitos por um médico reumatologista, que escolherá os medicamentos de acordo com as características do paciente.
Algo muito frequente e incorreta é iniciar ou parar o tratamento com os medicamentos que baixam o ácido úrico, dentro de uma crise franca de gota. Não se deve fazer isso, pois isso pode piorar a crise.
Deve ser tratada primeiramente a crise de gota para somente depois de controlada a crise, iniciar o tratamento redutor do ácido úrico.
Como é o acompanhamento da gota?
O acompanhamento da gota deve ser feito por médico reumatologista periodicamente. Os intervalos entre as consultas dependerão do quadro clínico apresentando, se for mais grave e mais alto o ácido úrico, mais frequentes devem ser as avaliações.
A meta de tratamento é manter os níveis de ácido úrico menores que:
< 6 mg/dL em pacientes sem tofos
< 5 mg/dL em pacientes com tofos
Além disso, o médico reumatologista irá ativamente pesquisar se há outras doenças associadas, como pressão alta, diabetes, colesterol alterado ou perda da função renal para que o tratamento seja o mais adequado possível.
Consulte um médico reumatologista titulado pela Sociedade Brasileira de Reumatologia e com Registro de Qualificação de Especialidade devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina. Sua saúde é muito importante e deve ser bem cuidada.